Primeiro treino e Why I like cycling

PRIMEIRA TREINO



Durante toda minha vida eu fui acusado pelos meus pais de inconsistência. Não na cara mas uma pessoa pode sempre dizer o que os pais estão pensando quando você aparece com um novo hobby um pouquinho cedo demais. “Mas você nem aprendeu a tocar guitarra direito rapaz!”. E ainda assim eu ficava tentando convencê-los de que este era o hobby que você ia carregar para o resto da nossa vida. Eu tinha finalmente achado o hobby perfeito, uma coisa para me minha higiêne mental que manteria minha sanidade mental no futuro duro da vida real. E eles deveriam ficar felizes por você.

Mas eles me conhecem muito bem. E eu não posso culpá-los por serem céticos. Eu pulei de interesse para interesse sem nunca dar tempo suficiente de ser bom naquilo que eu estava fazendo. Do Judô a tocar bateria, do Tae Kwon Do a fotografia, de guitarra a colecionar selos. E desde que eu me casei as coisas não mudaram muito. Minha pobre mulher herdou parte dessa minha mania de mudar interesses (salvo por ela, que é constante, juro). E quando um dia comentei que estava pensando em começar a fazer ciclismo eu não posso reclamar da "de verdade? outro hobby?" reação dela. Mas para lhe dar crédito, depois dessa conversa ela me deu e vem me dando suporte desde então. Acho que também é um bom momento de dizer que eu não vinha fazendo esporte pelos últimos 10 anos e estava pesando perto dos 100 quilos.

Isso foi quase há 4 anos e, contra todas as espectativas, ciclismo continua sendo o meu hobby e quase obsessão. E tudo começou de verdade no dia que minha filha nasceu. Minha esposa estava no seu nôno mês de gravidêz mas de qualquer forma eu tinha decidido fazer minha primeira corrida naquele dia, domingo 22 de abril. Quando acordamos, ainda perguntei se ela estava bem. Se havia risco de ser aquele o dia. Mas ela disse que não me preocupasse. Que eu podia ir tranqüilo e tomar o tempo que quisesse. "Pode ir. Sem problemas. Não vai ser hoje. Nem se preocupe!", ela disse. Tipo "famous last words"...

Claro que aquela não foi uma corrida "de verdade" se comparada com as de hoje. Na verdade foi até um pouco ridícula. Naquela época a minha bicicleta "de corrida" era uma velha, enferrujada magrela de aço. Tinha sido presente do meu sogro e sogra 7 anos antes e era usada basicamente para pequenas voltas recreativas. Eu não tinha nem uma garrafa de água, capacete, sapatos apropriados e muito menos uma camisa de ciclismo. Tudo o que eu tinha era era uma camiseta de algodão, a bicicleta e uns calções de ciclismo que estava usando em aulas de spinning. E, é claro, o celular. Por se "acaso"...

A corrida foi de uns 30 quilômetros ao redor da casa, o que hoje parece uma volta realmente diminuta. Mas era um domingo de sol, por volta dos 30 graus, sem vento e eu curti muito. A velocidade mais alta do que eu estava acostumado e a sensação de estar fazendo aquilo com um objetivo me deixou com um sentimento muito bom. Quando eu estava por volta de 1 hora e meia na corrida, o acaso aconteceu, o celular tocou e eu pedalei prá valer prá casa. As contrações tinham começado e o tempo entre uma e outra estava ficando cada vez menor rapidamente. Então cheguei em casa, mulher ainda calma, banho rápido, carrera pro hospital. Tudo no final acabou bem e as duas coisas ficaram conectadas na minha cabeça: um dos momentos mais importantes da minha vida até então com o outro que prometia mudar minha vida dali em diante.

Hoje eu sigo pedalando cada vez mais forte e espero cada vez mais rápido. Eu mantenho o "hobby" que se tornou uma forma de viver e mudou minha forma de encarar várias coisas desde o lado profissional até o familiar e de saúde. E sempre mantenho a memória daquela sensação do primeiro dia e primeiro treino.

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